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A PERIQUITA

Atualizado: 18 de fev. de 2021

VAI SOLTAR A PERIQUITA?


No zap apenas uma mensagem lacônica : “ Meu nome é Nestor e meu endereço é Rua Maria Quitéria, 66 Condomínio Green Garden, Salvador “ . Nem o nome do bairro ele deixou para me facilitar a vida. Bum! Bum! Bum!, meu coração batia disparado. Vou! Não vou! Vou! Não vou! Não sabia o que decidir.

Eu e minha mãe morávamos sozinhas. Desde que meu pai morreu, isso já faz dois anos, vivíamos numa casa modesta na periferia de São Paulo. Minha mãe chamava - se Josefa, conhecida por todos como zefa. Eu e Mami éramos unha e carne, como se dizia. Meu nome é Joana de Souza Marques, mas meu nome fantasia é Gabrielii, sim, com dois is.

Nunca tinha saído de São Paulo, do Estado. Mal, muito mal, conhecia outras cidades do Estado. Mas o tal Nestor, já me adiantara os 500 reais da viagem e do lanche. Daqui pra diante só faltava eu tomar a decisão.

A Joana convivia bem com a Gabrielii, as duas ocupavam o mesmo corpo. Mas as duas eram bem diferentes. Joana era meio tímida e modesta no se vestir. Gabrielii era aquilo que Joana não conseguia ser : extrovertida, alegre e ousada.

Joana é esguia e aparentava ter menos do que os seus 19 anos incompletos. Falava prestando bastante atenção em suas palavras. Cada gesto seu era bem medido, calculado. Não porque ela fosse dissimulada. Não! Ela não era. Tudo ela fazia para não magoar a mãe. Mas Gabrielii era o vulcão que habitava nela.

Não sei quando a Gabrielii apareceu na minha vida. Eu só sei que aos poucos, desde os meus quatorze anos, existia alguém que queria aflorar de dentro de mim. Alguém que era fogo e destempero. Eu vivia só pensando em sexo,sexo,sexo! Mas aquilo me assustava e me atraia fortemente.

Conheci um rapaz, na época eu tinha 15 anos, que era bem mais velho que eu, um rapaz boa praça e divertido e com quem tive a minha primeira relação. A transa não foi lá aquela maravilha que eu esperava mas me inaugurou para a minha vida sexual. De lá até agora, mantenho uma intensa vida sexual. Já conheci vários homens mas nunca tinha pensado em fazer do sexo uma atividade remunerada. E hoje, toda minha renda vem do comércio do sexo.

Comércio é uma palavra muito feia para uma atividade que também me dá prazer. Já faz dois anos que estou nessa profissão. Sou uma acompanhante.

O cara já não aguenta mais a mulher e o tédio do cotidiano...Bimba! Lá vai a Gabrielii! O cara quer ir para a balada mas não quer uma namorada fixa...Bimba! Gabrielii!

Nessa vou ganhando o meu suado, e bem suado, dinheirinho! Não pense que é fácil...a maioria dos homens é de grosseirões, machistas e só nos querem, sabem pra quê.

Nunca sai da cidade de São Paulo para os meus programas. A minha grande preocupação é de um dia ter que falar pra minha mãe a origem do dinheiro que entra nessa casa pelas minhas mãos. O dia está se aproximando e eu terei que viajar para Salvador. Fazer um programa de uma semana fora do meu Estado. Estou ansiosa.

Hoje é a véspera da viagem, já me decidi. Vou ao encontro do tal Nestor,...Nestor de que? Como será essa criatura?

_“Mãe, senta aqui no sofá, precisamos ter uma conversa...sim, minha filha, fala...eh, que sei que a senhora não vai aprovar….se eu não vou aprovar então porque vai falar...vou falar porque preciso falar...então fala logo...mãe, conheci um rapaz na net e ele me chamou para passar dez dias em Salvador e eu vou...vai? Já tá decidida? Então pra que me falar se já tá decidido?...É pelo meu compromisso com a senhora e a nossa amizade. Não quero que a senhora se chateie...Então vai mas sem a minha benção...”

Fui…

Cheguei, depois de muito perguntar as pessoas, do local indicado pelo Nestor. Ela um bairro meio afastado do centro, peguei um uber e dei de cara com o condomínio que ficava no terreno no topo de uma pequena elevação.

Não fui bem recebida pelo porteiro, desconfiado pela minhas roupas exageradamente transparentes. Tive que esperar por vinte minutos pra que alguém me autorizasse entrar. As minhas pernas tremiam como vara verdes! Até os meus dentes tremiam!

Nestor, logo que me viu fez uma cara feia, e criticou minhas roupas. Nem se apresentou formalmente. Foi logo me puxando pelo braço e me empurrando...entramos numa espaçosa casa de classe média alta com piscina e no início do que parecia uma festa. Era sexta – feira onze horas da noite...

Não dava nem para distinguir as pessoas...muita fumaça, muita luz faiscante...muitos corpos suados dançando eletricamente..não dava nem para conversar, o som bem alto. Foi designado pra ela um quarto à direita de quem entra. Ela entrou no quarto, deitou numa cama por quinze minutos...até que Nestor e dois outros homens alcoolizados e drogados a pegaram. Ela nem teve como se defender….

Mais dois dias se passaram. Ela fez tudo o que quis e o que não quis. Nestor queria que ela trabalhasse pra ele numa casa privé.

A festa acabou, a luz apagou, o bonde não veio.

E agora, José?

E agora, Gabrielii?

E agora, Joana?


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